Solidariedade.
Professora do IFSul em prêmio nacional
Projeto Multiplicar e Dividir já doou oito toneladas de sabão em barra entre Pelotas e Altamira, no Pará
Iniciativa de uma professora do Instituto Federal Sul-rio-grandense (IFSul), o projeto Multiplicar e Dividir foi selecionado para a semifinal da 2ª Edição do Prêmio Professor Transformador. À etapa atual do processo foram selecionadas 350 atividades pedagógicas de todo o país. A ação, que já se expandiu a diversos estados, realiza a produção e doação de sabão em barra e detergente, que são destinados às pessoas em situação de vulnerabilidade social.
Hábito de higiene que teve sua importância reforçada durante a pandemia de Covid-19, o ato de lavar as mãos com água e sabão é simples, mas que ainda tem acesso restrito a uma parte da sociedade. Foi esta realidade que fez com que a professora do curso de Química do IFSul, Nadja Costa, alçasse as mangas e colocasse a mão na massa. “Estava retornando de uma cirurgia quando estourou a pandemia, foi ali que vi que tinha que fazer algo para ajudar as pessoas e ao mesmo tempo não deixar os alunos largados”, conta.
Devido à impossibilidade de aglomerações, Nadja tomou a tarefa de produção para si, mas não deixou os estudantes de fora. Antes de iniciar a confecção, muitas pesquisas foram realizadas e o projeto virou uma sala de aula. “Chamei meu grupo de alunos e eles imediatamente embarcaram nessa.” Participam 11 estudantes que são responsáveis pela coleta de doações e divulgação do projeto, enquanto os itens são feitos na casa da professora.
Diferentemente da produção convencional do produto em barra, a técnica de multiplicação do sabão de mercado foi escolhida e demanda apenas o produto, açúcar, água e álcool líquido, tornando a produção acessível e rápida. “O sabão normal, feito de óleo soda, o pH fica muito alto, e precisa de um tempo de cura antes de, pelo menos, 30 dias. Não tínhamos esse tempo, o pessoal precisava imediatamente receber o item.” Com o tempo, melhorias foram sendo realizadas. Inicialmente, eram confeccionados 90 produtos a partir de 18 sabões comprados. Atualmente são 100 unidades, através da mesma quantidade.
A ação chamou a atenção de um estado do outro lado do País, chegando à Universidade Federal do Pará (UFPA), onde alunos de Engenharia Ambiental também passaram a produzir sabão. Através de palestras, a professora tem expandido a iniciativa e o projeto já faz parte do dia a dia de instituições como a Escola Gertrudes, em São Paulo, ou mais perto, como o IFSul de Santana do Livramento.
Cerca de oito toneladas de sabão em barras já chegaram às mãos de quem precisa, entre os produzidos em Pelotas, pelo IFSul, e por estudantes da UFPA, em Altamira, além de 500 litros de detergente. Os itens de higiene foram repassados a quilombos, asilos, ONGs, sindicatos, alunos locais, entre outros.
Com um possível reinício das aulas presenciais, Nadja afirma que o projeto terá continuidade dentro dos laboratórios do IFSul. “Minha intenção é que eles [alunos] toquem esse projeto adiante.”
Ajuda em boa hora
Dentre as beneficiadas pelos itens está a Associação de Apoio a Pessoas com Câncer (Aapecan). Conforme o assistente social Jaime Wetzel, a parceria, desde 2020, auxilia nas demandas da casa. Ele conta que durante a pandemia a Aapecan confeccionou kits de higiene, contando com o sabão e o detergente do projeto, que foram entregues aos pacientes. “Como trabalhamos com famílias de baixa renda, damos essa importância à higiene e cuidado por conta da pandemia e essa ajuda veio a agregar muito.”
Já a parceria entre o Multiplicar e Dividir e a Central Única das Favelas (Cufa) Pelotas se transformou em um projeto de geração de renda. “Em meio ao período mais drástico da pandemia, algo que deixou várias mulheres das nossas favelas sem trabalho, era preciso criar alternativas que trouxessem renda, sobretudo dignidade, e o projeto de fabricação de sabão e detergente foi uma possibilidade”, explica o coordenador Sandro Mesquita. Cerca de 500 mulheres são cadastradas no Núcleo Maria Maria e, através do projeto, veem a oportunidade de poder, novamente, colocar comida na mesa.
Recompensa
Este é o segundo prêmio ao qual o Multiplicar e Dividir é indicado. No ano passado, o projeto foi finalista do Prêmio Educação RS, realizado pelo Sindicato dos Professores do Ensino Privado do Estado (Sinpro). “Nunca tive ambição pessoal. Não acho justo tirar vantagem porque ninguém queria estar passando por tamanha necessidade e também porque muita gente me ajuda”, comenta a professora.
Desta vez, a iniciativa encontra-se entre os 350 semifinalistas do Prêmio Professor Transformador, implementado pela Base2edu, um acervo curador de projetos educacionais, e pela Bett Educar, comunidade global de tecnologia educacional, em parceria com o Instituto Significare.
Inicialmente, mais de 700 projetos foram indicados ao prêmio, passando metade deles para a última fase, conforme a avaliação de uma banca formada por mestres e doutores em educação. Os projetos selecionados seguirão para a próxima etapa, quando serão selecionados três projetos de cada segmento da educação básica (Educação Infantil, Fundamental 1, Fundamental 2 e Ensino Médio).
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